Mostra que será aberta em Porto Alegre em setembro tem mais artistas argentinos que brasileiros
FABIO CYPRIANO
ENVIADO ESPECIAL A PORTO ALEGRE
O Mercosul, subitamente, cresceu de cinco para 23 países. Ao menos será assim na 6ª edição da Bienal do Mercosul, prevista para ser aberta no dia 1º de setembro, em Porto Alegre. Em relação à edição passada, a mostra tornou-se mais enxuta: diminui de 173 para 63 artistas. Uma das surpresas foi a quantidade de brasileiros, apenas nove, quando na edição passada foram 79. Essa presença massiva, que se repetia também nas edições anteriores, levou o curador a fazer uma "provocação", apresentando mais argentinos -serão dez- que brasileiros. Segundo Gabriel Pérez-Barreiro, curador da mostra, o novo perfil da Bienal foi uma orientação do presidente da Fundação Bienal do Mercosul, Justo Werlang: "A idéia é organizar uma Bienal que parta do Mercosul, mas não se restrinja apenas aos países daqui. Nas últimas bienais, vários artistas já estavam se repetindo". O espanhol Pérez-Barreiro criou um modelo complexo de Bienal: conta com seis curadores adjuntos, entre eles o brasileiro Moacir dos Anjos, além de ter proposto uma sessão denominada Conversas, para a qual convidou nove artistas, sendo que cada um podia convidar outros dois e a curadoria indicava um terceiro. Com isso, cerca de 25% da exposição passou longe da decisão dos curadores. "Eu busquei questionar o papel do curador, pois essa não é uma bienal que quer dar uma visão única da arte contemporânea. Fico preocupado quando não há diversidade, quando o discurso é um só. Acho isso intolerante", disse o curador-geral em entrevista coletiva anteontem para apresentar a mostra. Por conta desse sistema, a lista da Bienal trouxe nomes um tanto inusitados no campo das artes visuais, como o cineasta Terrence Malick, que foi selecionado pelo artista Fernando Lopez Lage, para participar com o filme "Além da Linha Vermelha", ou então o músico Steve Reich, selecionado pelo brasileiro Waltercio Caldas. O curador concebeu a Bienal usando como "metáfora", como ele prefere se referir, ao invés de usar a palavra tema, o título do conto "A Terceira Margem do Rio", de Guimarães Rosa. "Creio que todo ato criativo gera um espaço que não existia antes, portanto ele não pode estar preso a polaridades do tipo formal versus conceitual. Essa Bienal é uma espécie de resposta à 1ª Bienal, que dividia a arte em categorias."
O jornalista Fabio Cypriano viajou a convite da Fundação Bienal do Mercosul