MARCIO AQUILES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Santos versus Peñarol, final da Libertadores no Pacaembu, zona oeste de São Paulo. Enquanto isso, no Bar do Zé Batidão, na Chácara Santana (zona sul), Rosilene da Costa Dorea, 38, lê seu poema "Intensidade".
Quem visse a camisa do Pelé autografada, em destaque na parede do bar, jamais imaginaria que, exatamente na hora do jogo, um sarau literário que acontece todas as quartas-feiras acolheria cerca de 300 pessoas assistindo à declamação.
"O Sarau da Cooperifa mudou a minha vida. Eu voltei a estudar e hoje escrevo poesia", diz Dorea.
As opções de acesso à cultura para a população de baixo poder aquisitivo espalham-se pela cidade por meio de eventos gratuitos, que desmistificam a ideia de que essas pessoas não consomem arte.
"Aqui era uma das zonas mais violentas de São Paulo. Estamos prestes a completar dez anos e hoje vem gente de toda parte para participar do nosso sarau", afirma o poeta e idealizador, Sérgio Vaz.
CINEMA EM PERUS
Outro exemplo de difusão cultural é a Comunidade Quilombaque, localizada em Perus (zona norte), bairro com alguns dos piores índices socioeconômicos da cidade.
A Quilombaque oferece cursos de música, artesanato, teatro e literatura, além de organizar festivais como o Mutirão Cultural na Quebrada e o Cinequilombo, promovidos em praça pública.
"Tem gente que sai daqui chorando, porque nunca tinha ido ao cinema", diz o coordenador do projeto, Clebio Ferreira de Souza, 26.
"Com o Cinequilombo, nós temos a ocupação da praça com arte, em vez de consumo de bebidas e drogas", afirma José Soró, 47.
RAP NO CENTRO
Já o ponto de cultura Periferia no Centro, localizado na Vila Buarque, organiza atividades como a Rinha dos MCs, o Sarau do Rap, o Suburbano no Centro e o Samba de Comunidade.
"Aqui não se vende bebida alcoólica, há um banheiro limpo, tem café. Tudo aquilo que nosso povo merece para ter o mínimo de dignidade", diz o músico Criolo, um dos organizadores da rinha - disputa de rappers com rimas improvisadas.
O vencedor da última disputa, Vinícius da Silva Maximino, 21, veio de Diadema, na Grande São Paulo, para participar do evento, que ocorre simultaneamente a oficinas de xadrez.
"Tem gente que fala: 'Puxa, eu odeio rap, mas gostei muito do xadrez'. Queremos que as pessoas levem algo de positivo para suas comunidades", completa Criolo.
Colaboraram LUCAS SAMPAIO, LUCIANO ABE e RAFAEL ZANATTO