Rui Palha é um excelente fotógrafo com preferência pelo preto e branco e pelas fotos captadas nas ruas. Ele nasceu em 1953 em Portugal e vive em Lisboa. Desde os 14 anos a fotografia é seu hobby, com grandes interrupções até 2001. Desde então, ele dedica quase todo o seu tempo à fotografia de rua. Aqui é o site de Rui Palha.
sábado, fevereiro 25, 2012
quarta-feira, fevereiro 15, 2012
Martin Klimas
German photographer Martin Klimas created the series 'porcelain figurines'. the collection of images were captured just as each of the fragile objects hit the ground after being dropped from a height of 9.8 feet . the artist was able to take the photos by wiring his camera in such a way that the sound each figurine made as they touch the ground tripped the device's shutter release. In addition to the dynamic quality observed in the pose of each porcelain action character, by dropping the objects, Klimas is able to enhance the sense of liveliness through the shard-constructed elongation of each figure's form.
Porcelain Figurines
From a height of three meters, porcelain figurines are dropped on the ground, and the sound they make when they hit trips the shutter release. The result: razor-sharp images of disturbing beauty-temporary sculptures made visible to the human eye by high-speed photography technology. The porcelain statuette bursting into pieces isn’t what really captures the attention; the fascination lies in the genesis of a dynamic figure that replaces the static pose. In contrast to the inertness of the intact kitsch figurines Klimas started out with, the photographs of their destruction possess a powerfully narrative character.
terça-feira, fevereiro 14, 2012
Wando sim, Spinetta e Tàpies não - Sylvia Colombo
Wando sim, Spinetta e Tàpies não
Sylvia Colombo
O Brasil anda com a bola toda na opinião pública internacional. Com razão, principalmente no que diz respeito a aspectos políticos e econômicos. Afinal, já somos a sexta economia do mundo, superando o Reino Unido, e exibimos nosso tradicional charme como principal atrativo dos megaeventos da Copa do Mundo-2014 e da Olimpíada-2016.
Falta muito, porém, para deixarmos nosso provincianismo cultural para trás. O fato de termos uma tradição musical popular fortíssima e vibrante teve a desafortunada contrapartida de fazer com que conheçamos muito pouco a música popular de outros países --exceção feita à produção anglo-saxã, que penetra em muito devido à inegável força dessa indústria cultural.
No cinema e na literatura, há mais variedade. Mas o sucesso da produção de outros países depende, em geral, de selos de qualidade vindos de centros como Reino Unido, França ou EUA.
Já o teatro e as artes plásticas são para poucos entendidos. Nesse aspecto, influencia nosso péssimo desempenho em educação, comparado com outros países da região. Em geral, o brasileiro médio conhece pouco ou simplesmente não se interessa por esses assuntos de um modo geral.
Pensei muito nesse tema na última semana, por conta da triste partida de alguns artistas. O cantor popular brasileiro Wando, o pintor espanhol Antoni Tàpies e o músico argentino Luis Alberto Spinetta.
Wando foi celebrado pelas redes sociais e pela imprensa de um modo geral de uma forma como nunca foi em vida. Todo mundo achou "cool" dizer que curtia sua música, de qualidade artística contestável. Foi festejado e alçado a um posto que jamais ocupou de verdade na nossa música popular. Wando, com todo o respeito, não foi um Caetano Veloso, um Gilberto Gil, nem mesmo um Gonzagão, se quisermos ficar com um exemplo do cancioneiro mais popular.
A comoção nacional e o elogio de seu legado deixam evidente nosso provincianismo. Na mesma semana, morreram também Tàpies e Spinetta, e quase não houve repercussão no mundinho cultural brasileiro.
O catalão Antoni Tàpies era um vanguardista. Morto na idade longeva de 88 anos, conviveu com os grandes nomes das artes plásticas do século 20, como Picasso e Miró. Seu estilo "matérico" tinha influência da cultura oriental, mais especificamente do budismo zen.
A ele está dedicado um dos centros culturais mais belos de Barcelona, a Fundação Tàpies (www.fundaciotapies.org), que possui também biblioteca e está instalada num lindo prédio modernista, passeio obrigatório a visitantes da capital catalã.
Longe de ser um artista conhecido apenas pelo círculo alternativo, Tàpies ganhou prêmios e foi festejado internacionalmente durante toda sua carreira. A indiferença com que a notícia de sua morte foi recebida no Brasil expõe como as artes plásticas são consumidas ainda apenas por uma elite intelectual.
Já a partida de Luis Alberto Spinetta, aos 62, em Buenos Aires , mostra como a fronteira com o país-irmão que deveria ser a Argentina parece ser feita de concreto e protegida por arame farpado. Spinetta era uma espécie de mistura entre Erasmo Carlos e Caetano Veloso, em termos de peso na música local. Precursor do rock nacional, foi um artista erudito e sensível que opinava e influenciava nos debates da sociedade.
Sua carreira começou no fim dos anos 60 e atravessou várias fases. Conhecido pelo apelido de "flaco", por ser muito magro, criou bandas como Almendra e Spinetta Jade. Recebeu influências do punk e da psicodelia dos anos 70, do pop dos anos 80 e do jazz. Entre seus principais sucessos estão "Muchacha (Ojos de Papel)" e "Plegaria para un Niño Dormido". Suas letras eram sofisticadas e poéticas, seu rock era criativo e vigoroso.
A comoção que causou sua morte atravessou gerações, da presidente da nação aos garotos, foi manchete dos principais jornais, enquanto seus clipes e suas músicas foram revisitados pelas TVs e rádios por vários dias. Uma multidão foi à sua despedida. Políticos, intelectuais, artistas e gente comum fizeram do "#chauflaco" um "trending topic".
O mais importante filósofo e ensaísta argentino, Santiago Kovadloff, disse sobre sua morte: "Há um momento em que a música popular se encontra plenamente com a poesia, não somente no campo do folclore, mas também na composição urbana. No Brasil, Chico Buarque foi uma de suas máximas figuras e, entre nós, Spinetta representou algo muito similar."
Em nosso país, posso estar enganada, mas só vi uma referência à morte de Spinetta no Twitter do Ed Motta.
Sim, perder Wando, o rei das calcinhas, é uma notícia triste e um assunto suculento para a audiência na rede em tempos de internet. Mas observar a valorização do legado desse músico de segundo time e ao mesmo tempo o provincianismo brasileiro diante da perda de artistas que tiveram muito mais a dizer, como Tàpies e Spinetta, é chocante.
Tomara que esse "Brasil do futuro" que surge agora saiba abrir seus horizontes e consumir a produção de variadas origens, pelo menos na mesma proporção em que exporta a sua.
Sylvia Colombo é correspondente da Folha em Buenos Aires. Está no jornal desde 1993 e já foi repórter, editora do "Folhateen" e da "Ilustrada" e correspondente em Londres. É formada em jornalismo e história.
Colecionadores brasileiros investem em museus próprios - Audrey Furlaneto
Colecionadores brasileiros investem em museus próprios
Na esteira de Inhotim, cresce no país o número de espaços para abrigar acervos particulares e exibi-los ao público
Audrey Furlaneto
RIO - Depois da iniciativa do empresário Bernardo Paz, que construiu Inhotim, o maior centro de arte contemporânea do Brasil, outros colecionadores brasileiros apostam em abrir seus acervos ao público. São cada vez mais frequentes as coleções particulares acessíveis a visitantes ou até mesmo transformadas em institutos. Em São Paulo, já existem pelo menos dois acervos privados que podem ser vistos por quem se interessar. Há ainda iniciativas semelhantes no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo. São, digamos, museus particulares para crítico nenhum botar defeito.
Como Bernardo Paz, que, num primeiro momento de seu instituto, recebia visitantes com hora marcada, o colecionador Oswaldo Corrêa da Costa criou um espaço para sua coleção, que pode ser vista em Pinheiros, em São Paulo, com agendamento prévio. Aos 53 anos, o economista aposentado diz que não lhe agradava o fato de seu acervo, que completa 40 anos em 2013, ser "um tanto estéril". Custeou (sem o uso de leis de incentivo) a reforma do espaço de 130 metros quadrados de área expositiva e outros 130 de subsolo e reserva técnica. Organiza no local, batizado de Coleção Particular, exposições trimestrais, que são, como afirma, "tentativas de compreender a própria coleção".
— Morei a maior parte da vida nos Estados Unidos, no Canadá e em países da Europa, onde há sempre coleções particulares abertas ao público. Estranhava que isso não existisse no Brasil. O exemplo de Inhotim foi fantástico, pena que é fora de mão — avalia o colecionador.
O modelo que impera no país, segundo ele, é o de coleções valiosas fechadas nos grandes apartamentos dos colecionadores, que recebem visitas restritas aos interesses do mercado das artes plásticas. Durante a Bienal de São Paulo, por exemplo, são frequentes os jantares e encontros para marchands internacionais nas "casas das coleções". Dono de obras de Hélio Oiticica, Mira Schendel, Leda Catunda, Leonilson e Antonio Dias, entre outros (são mais de 500 obras), Costa diz que, embora abra sua coleção, são raras as "pessoas comuns" interessadas em vê-la.
— Recebi até hoje 200 pessoas, algo como cinco por semana. Acho que os brasileiros ainda não estão acostumados — diz ele, que abre as portas da Coleção Particular apenas de quarta a sexta-feira. — Gostaria de ter mais tempo, mas, se fosse abrir direto, teria de contratar recepcionista, segurança. Evito ter muitos gastos, porque faço tudo sozinho.
Há colecionadores que se inspiram no modelo atual de Inhotim, institucionalizado e aberto como um museu. Nada, é claro, tem as dimensões do empreendimento de Bernardo Paz, que, recentemente, em entrevista ao GLOBO, disse que pretendia transformar seu centro cultural (com dois milhões de metros quadrados e estimado em US$ 200 milhões) numa espécie de "Disney das artes plásticas". Em Ribeirão Preto, o economista João Carlos de Figueiredo Ferraz, de 60 anos, inaugurou no final de 2011 um instituto que leva seu sobrenome — e guarda a coleção, de quase mil obras, formada por ele e por sua mulher, a arquiteta Dulce de Figueiredo Ferraz. Paulistano, ele escolheu a cidade do interior do estado para viver e construir sua usina de açúcar nos anos 1980, década em que iniciou sua coleção de obras de arte. Nos últimos anos, vinha tentando enviar seu acervo por comodato para instituições da capital e, sem sucesso, decidiu construir seu próprio instituto.
Inaugurado no fim do ano, o Instituto Figueiredo Ferraz é uma das maiores iniciativas recentes para expor uma coleção particular. São 2.500 metros quadrados de área construída e quatro salas de exposição, divididas em dois andares. Há ainda uma reserva técnica, um auditório para 60 pessoas, biblioteca, jardim, escritório e bar para os dias de eventos. Questionado sobre os custos da construção, patrocínios ou uso de leis de incentivo fiscal, o instituto informou que não comenta tais temas.
O Figueiredo Ferraz possui obras de artistas como Tunga, Vik Muniz, Tatiana Blass, Antonio Dias, Adriana Varejão e Nuno Ramos. Na inauguração, o instituto convidou Agnaldo Farias, curador da última Bienal de São Paulo, para selecionar as obras da primeira exposição, "O colecionador de sonhos".
— A ideia de abrir ao público foi uma consequência da abertura do espaço. Não fazia o menor sentido mantê-lo fechado sendo que essas obras fazem parte do patrimônio cultural da Humanidade e portanto devem ser vistas — diz Ferraz. — Inhotim é um exemplo extraordinário e deve ser aplaudido, mas acredito que nossa história seja um pouco diferente: enquanto eles compraram obras para ocupar um espaço, nós tivemos que achar um espaço para receber uma coleção que se formou nos últimos 30 anos.
Agnaldo Farias vê a iniciativa de mostrar uma coleção privada ao público como "algo naturalmente muito generoso e que dá visibilidade a uma obra que acabaria fora da vista do público". Farias acompanhou a formação da coleção de Ferraz, que, na década de 1990, "já se mostrava consistente". Para o curador, porém, o modelo ainda "engatinha" no mercado brasileiro.
— O próprio colecionismo no país ainda está se constituindo. É preciso se profissionalizar, porque há muita compra errada, muita volúpia de compra, que não configura uma coleção — diz Farias.
Colecionadora desde os anos 1960, a artista plástica Vera Chaves Barcellos, de 74 anos, diz que se cansou de ver as obras de seu acervo pessoal "em casa ou mal depositadas". Ela e o marido, o também artista e colecionador Patrício Farias, decidiram construir uma reserva técnica em 2005. A coleção seguiu crescendo e, em 2010, o casal criou um espaço em Viamão, a cerca de 20 quilômetros de Porto Alegre (RS). Hoje, estão prestes a inaugurar a segunda reserva, e seu espaço expositivo, de 400 metros quadrados, recebe a quarta exposição do acervo do casal.
— Ganhamos agora um edital do Ministério da Cultura para contratar um especialista em arte que vai atender as escolas que nos visitam — conta Vera, que, em parceria com o governo local, já recebe alunos de escolas da região.
Em São Mateus, no Espírito Santo, o escritor Maciel de Aguiar, de 60 anos, custeou a construção de dois prédios nos últimos 30 anos para abrigar sua coleção, composta principalmente de peças da cultura afro-brasileira. O Museu África Brasil deverá ter mais cinco prédios. Num deles, Aguiar vai exibir pinturas de Heitor dos Prazeres e objetos do período da escravidão, como troncos e algemas.
— A ideia não é minha, é do Darcy Ribeiro. Ele dizia que o país deveria ter um museu para reunir tudo sobre a escravidão. É o que pretendo. Sei que é um projeto grandioso e gostaria de ter parceiros — diz Aguiar, que banca a coleção e as construções com a venda de livros que escreveu sobre Pelé e Oscar Niemeyer.
O recente crescimento de coleções abertas ao público é acompanhado pela empresária Regina Pinho de Almeida, de 50 anos. Colecionadora desde os 25, ela se voltou na última década para a arte contemporânea brasileira e tem convidado outros colecionadores para reunir seus acervos num mesmo lugar.
— Todos se entusiasmam com a ideia, mas ninguém fecha — resigna-se Regina.
"A vaidade existe", completa a colecionadora, mas um dos motivos que espantariam os colegas é a necessidade de "regularização das obras, muitas vezes adquiridas em compras internas", ou seja, sem recibo.
— Muitos têm medo da questão legal, porque, até pouco tempo atrás, não se comprava com nota fiscal. Hoje, só compro com nota. Mas, para expor uma coleção, todas as obras teriam que ser regularizadas. A questão tributária é outro problema. Para uma pessoa física não é fácil conseguir incentivo e bancar todo o processo.
Para o colecionador Mariano Marcondes Ferraz, de 46 anos, que vive na Suíça e tem seu acervo nas casas da Europa e do Rio, a abertura ao público de coleções particulares é "um fenômeno que deve ocorrer no Brasil nos próximos dez anos, assim como ocorreu a profissionalização das galerias brasileiras nos últimos tempos".
— Hoje, existe um interesse maior em colecionar arte. Temos mais galerias e mais colecionadores, um reflexo do que está acontecendo no Brasil, de mercado aquecido. Além disso, a qualidade dos artistas brasileiros é excepcional, o que propicia a procura de visitas a coleções privadas — avalia ele. — Ter um espaço dedicado à sua coleção e torná-la acessível a mais pessoas é um sonho que todo colecionador tem.
segunda-feira, fevereiro 13, 2012
Marina Abramovic
Documentário acompanha um ano na vida de Marina Abramovic
Aos 65 anos, artista sérvia segue testando os limites de seu corpo
André Miranda
BERLIM - Marina Abramovic já ficou nua; riscou um pentagrama em volta de seu umbigo com uma faca; permitiu que as pessoas usassem objetos como bem entendessem em seu corpo durante seis horas; ficou nua de novo, dessa vez deitada com um esqueleto; andou por 2.500 quilômetros da Muralha da China para dar fim a um relacionamento; passou três meses indo a um museu para simplesmente se sentar numa cadeira durante todo o dia e observar quem se sentasse em frente a ela; e se despiu por três, quatro, cinco, quantas vezes fosse preciso para sua obra.
Todos os trabalhos que a tornaram reconhecida no mundo como a "avó das performances" foram realizados em nome da arte, a mesma arte performática cujo encontro com o cinema a trouxe para a 62 edição do Festival de Berlim.
A artista, nascida em 1946 em Belgrado, na Sérvia (à época, parte da Iugoslávia), está na Berlinale para as sessões do documentário "Marina Abramovic — The artist is present" ("A artista está presente"), de Mathew Akers, incluído na mostra Panorama.
O filme revela detalhes da rotina e das motivações de seu trabalho, tendo como ponto de partida a famosa exposição "The artist is present", que Marina apresentou no Museu de Arte Moderna (MoMA) de Nova York em 2010. Foi quando se sentou na cadeira para se comunicar sem palavras com os espectadores, além de reunir outros artistas para recriar algumas de suas apresentações mais famosas, como a "Imponderabilia", de 1977, em que ela e seu então namorado, o artista alemão Ulay, ficavam nus numa porta, para que as pessoas passassem por entre eles.
Anteontem, num restaurante de Berlim, Marina conversou com O GLOBO sobre o filme, Ulay, a verdadeira performance e as dúzias de viagens que faz ao Brasil desde o fim dos anos 1980.
O GLOBO: A senhora estava no Brasil há pouco tempo, não?
MARINA ABROMOVIĆ: Na verdade, eu vim do Brasil para cá, cheguei ontem (quinta-feira).E estou com um problema sério porque não tenho roupas para este frio que está fazendo em Berlim. No Brasil a temperatura era quarenta graus. Agora mal consigo sair na rua (risos).
- E o que a senhora fazia no Brasil?
Eu tenho uma longa história com o Brasil. Depois de terminar a performance em que andei na Muralha da China, em 1987, eu passei a me interessar pelas relações emocionais e físicas das pedras, da terra em que eu caminhei. O cobre, o ferro, os minerais, tudo isso traz uma sensação diferente. E eu queria que o público compreendesse esse tipo de experiência, mas havia um problema: na Muralha da China, foi a primeira vez que minha performance não foi visível para as pessoas. Então eu criei um novo corpo de trabalho que envolvia objetos transitórios. Aí, em 1989, fui ao Brasil para visitar suas minas. Fui para Serra Pelada, Minas Gerais, Santa Catarina, Marabá, a Amazônia, vários lugares, atrás de pedras que me permitiriam criar objetos de interação com o público. De 1989 a 1995, eu fui muitas vezes ao Brasil.
- Desta vez a senhora foi novamente atrás das pedras?
Sim. Depois da retrospectiva no MoMA (o Museu de Arte Moderna de Nova York), eu quis voltar àqueles minerais. Acho que hoje entendo mais e mais a energia que vem deles. Então reuni 35 caixas de pedras e as enviei para um museu em Milão. Elas farão parte de uma nova performance em que estou trabalhando. A ideia é que parte do público faça uma performance e a outra parte veja a performance dos outros. É uma proposta educativa para que as pessoas compreendam o que a arte performática realmente significa. Eu estou construindo objetos para as três posições básicas do ser humano: sentado, deitado e de pé. Já construímos, por exemplo, cadeiras bem altas em que os pés não tocam o chão, para dar um sensação diferente da gravidade, e que vão ficar por cima de pedras preciosas diversas. Cada pedra vai gerar um campo energético e oferecer um significado para quem estiver ali.
- Mas, apesar de ter ido tantas vezes ao Brasil, a senhora nunca se apresentou lá.
Não, é verdade. Mas ouvi dizer que a peça que eu fiz com Robert Wilson (dramaturgo americano que lançou em julho do ano passado, num festival de Manchester, o espetáculo “The life and death of Marina Abramović”, com participação da própria) vai ao Rio no próximo ano, talvez também para São Paulo. Mas não sei muitos detalhes sobre isso.
- A senhora sempre pareceu muito empenhada em mostrar às pessoas o significado da performance. É esta também a ideia do documentário que está sendo exibido em Berlim?
Este filme foi muito importante para mim. E eu radicalizei. Aceitei ter um microfone atrás de mim durante um ano inteiro. Eu não tinha privacidade, e é muito difícil você se expor completamente desta maneira. O sujeito da câmera tinha a chave do meu apartamento, aparecia às 6h e esperava eu acordar com a câmera no meu rosto. O ponto era mostrar para os espectadores como é séria e difícil a preparação para uma performance. Não é um entretenimento de merda como aquelas pequenas exibições em museus para as quais você é convidado o tempo todo. Performance é um negócio muito sério. Por isso, espero que o filme ajude as pessoas a entender o significado da performance, não apenas do meu trabalho.
- É por isso também que, diferentemente de outros artistas, a senhora aceita que suas performances sejam reproduzidas?
A performance é um arte temporal. Então, se não houver a reporformance, ela vai morrer. Vai virar uma foto morta num livro. É melhor que alguém repita uma performance do que não haja performance alguma. Mas meus colegas pensam diferente. Eles dizem que a performance é uma obra original que não pode ser reproduzida. Eles nunca dão os direitos para que outros façam. No meu caso, eu abro meu trabalho para jovens artistas performáticos, acho isso muito importante. Mas abro apenas os trabalhos que não tragam algum risco físico, porque não tenho como controlar as possibilidades de cada um.
- Qual a importância do público para sua performance? Sua presença de alguma forma transmite força para sua arte?
O público é tudo para mim. Mesmo se eu estiver numa palestra e perceber que alguém se levantou para ir no banheiro, eu fico prestando atenção até ele voltar. Se ele não voltar, para mim quer dizer que eu falhei. Cada uma das pessoas na plateia cria um diálogo de energia comigo. Eu pego a energia que vem do público, a transformo e a devolvo. É assim meu trabalho.
- No filme, há uma cena em que uma moça tenta ficar nua antes de se sentar na sua frente no MoMA, mas é impedida e removida pelos seguranças. O que você pensou naquele momento?
Foi tudo muito rápido, eu mal pude ver o que aconteceu. A questão é que as regras para aquela performance eram bem rígidas. Você não tinha permissão para fazer sua própria performance. Deveria apenas se sentar na minha frente pelo tempo que quisesse e interagir com os olhos. Era esta a ideia. Aconteceu de muitos artistas, não apenas aquela moça, tentarem ser percebidos ali no MoMA. É difícil conseguir exposição no mundo das artes, então qualquer oportunidade deve ser utilizada para mostrar seu trabalho. Eu entendo essa necessidade, mas naquele caso havia regras, e essas deveriam ser seguidas. Teve um cara que se vestiu igual a mim e propôs casamento. Foi meio louco, para muitos aquele momento era como se estivessem num palco.
- Hoje, há uma ideia de que qualquer um pode fazer uma arte performática. Isso aparece muito no teatro, por exemplo.
Antes, a performance e o teatro eram duas artes bem diferentes. Mas, hoje, os diretores de teatro levam tantas performances sérias para os palcos que pode-se dizer que há uma mistura. Se você pensar, por exemplo, em Pina Bausch e outros artistas incríveis, o trabalho deles em utilizar performances no palco é bastante interessante. A boa performance tem muita força para estar em qualquer lugar, no teatro, na dança, na moda ou cinema.
- Mas é mais do que no teatro. Há pessoas protestando nas ruas que tratam o que fazem como performance. Há gente nas redes sociais que age como se aquilo fosse uma arte performática. É a mesma coisa?
Não. Tudo depende do contexto. As redes sociais ou as performances nas ruas têm contextos diferentes da arte. Às vezes é político, às vezes é pessoal. Se um cara faz um pão, por mais que ele faça o melhor pão do mundo, ainda assim ele não será um artista. Será um bom padeiro. Mas se você faz um pão num galeria, aí sim você estará fazendo arte. O contexto muda tudo. Nos anos 1970, todo mundo dizia que fazia performance, mas era na verdade um monte de merda. Assistir à verdadeira boa performance é uma experiência que vai mudar sua vida.
- No documentário, Ulay, seu namorado e parceiro de performances por quase uma década, fala em entrevista sobre o fim do relacionamento de vocês, de como ele engravidou a tradutora que os ajudava nas negociações para a performance na Muralha da China. Como a senhora lidou com o fato na época?
A tradutora acabou se tornando esposa dele, mas eles já se separaram. Aquela não foi a única vez que Ulay fez aquilo. Nós ficamos nove anos juntos, e os últimos três anos foram bastante ruins. Eu o convidei para a retrospectiva no MoMA porque muito daqueles trabalhos nós havíamos criados juntos. Mas não somos amigos. Temos uma relação apenas ok. E Ulay não está bem, está com câncer. Ela está em Berlim e fiquei muito chocada com sua aparência ao vê-lo hoje mais cedo.
- A senhora, por sua vez, está com 65 anos, continua fazendo performances que exigem muito da parte física e aparenta ter pelos menos 15 anos a menos. De onde vem toda essa energia?
Uma das minhas avós morreu com 103, a outra com 116 anos. Eu sou uma espécie de soldada. Eu não bebo, nunca fumo, não uso drogas. Só faço exercícios, trabalho e vivo.
- Talvez isso tenha vindo da disciplina imposta por seus pais, ambos heróis de guerra na antiga Iugoslávia. Como pessoas como eles lidavam quando você começou a se apresentar?
Meus pais ouviam críticas nas reuniões do Partido Comunista, sobre que tipo de educação eles tinham me dado. E eles deram uma educação muito rígida mesmo, uma disciplina militar. Minha mãe ficava bastante irritada com as performances. Quando minha mãe morreu, eu lembro de ter ido a seu apartamento olhar suas coisas e ter achado um livro sobre meu trabalho em que ela tinha rasgado todas as páginas em que eu aparecia nua. Ela editou o livro para mostrar para os vizinhos, tirou umas 20 páginas.
- A senhora se imagina velhinha, com mais de 100 anos como suas avós, ainda fazendo performances?
Eu nunca vou parar. Só vou parar quando morrer. Eu quero muito descobrir os limites do meu corpo, quero saber o que vai acontecer. O Merce Cunningham (coreógrafo de dança americano, morto em 2009, aos 90 anos) sofria de uma artrite terrível e ainda se apresentava com as mãos e os joelhos. Quero isso para minha vida.
quinta-feira, fevereiro 09, 2012
Desenhista retrata morte de jornalista russa
Desenhista retrata morte de jornalista russa
MARINA DARMAROS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE MOSCOU
Em 7 de outubro de 2006, durante a segunda guerra da Tchetchênia (1999-2009), Anna Politkovskaia, correspondente do jornal russo dissidente "Novaia Gazeta", foi assassinada, aos 48 anos, no elevador de seu prédio, em Moscou. Um dia depois, o desenhista italiano Igort escrevia, da França: "Uma luz apagada com quatro balas". O post em seu blog continha apenas uma frase e a foto de Anna. Durante quatro dias seguidos, o desenhista, nascido Igor Tuveri e criado numa casa "muito simpática à cultura russa", não pôde deixar de escrever sobre o evento. O interesse pelo assunto o levou a uma viagem de dois anos pelo país, a partir de 2009, cujo fruto é a graphic novel "Les Cahiers Russes: La Guerre Oubliée du Caucase" (cadernos russos: a guerra esquecida do Cáucaso; editora Futuropolis; 20 euros -cerca de R$ 45-, em média, na Amazon.fr), lançada em janeiro na França. "A Rússia é hoje um país amaldiçoado, onde a gente tem medo de falar sobre certos assuntos, finge não ver que alguns julgamentos, como o da morte de Politkovskaia, são grotescos", disse Igort à Folha. Mais de cinco anos depois, o caso de Anna continua sem solução. Profundamente tocada pelos horrores da Tchetchênia, a jornalista não fazia apenas seu trabalho, e esse era um dos motivos pelos quais incomodava tanto, segundo sua amiga e tradutora Galia Ackerman, também retratada por Igort. "Ela era uma defensora dos direitos humanos", conta Galia. Além de refazer o percurso de Anna no dia de sua morte, Igort reconta episódios de injustiças contra o povo caucasiano relatados por ela. Um deles é o do massacre na escola de Beslan, quando terroristas fecharam uma escola na Ossétia do Norte, em 2004, exigindo a retirada das tropas russas da Tchetchênia. Mal coordenada pelas forças russas, a ação resultou em até 380 mortes. "Cadernos Russos" não foi uma estreia. Casado com uma ucraniana e falando um pouco de russo, Igort já havia publicado, pela mesma coleção da editora Futuropolis, os "Cadernos Ucranianos", sobre a grande fome provocada por Stálin que matou 6 milhões no país nos anos 1930. "Com o desenho você pode facilmente recriar qualquer coisa, é tudo por sua conta e de seu talento", diz. Já publicado na Itália desde o ano passado e com uma tiragem inicial de 6 mil cópias na França, as expectativas de venda do novo livro são grandes. Segundo a porta-voz da Futuropolis, Elise Rouyer, isso se dá principalmente devido ao sucesso do "Cadernos Ucranianos", publicado em sete países europeus. No formato de um diário de viagem, a história contada por Igort está repleta de episódios da "democratura" russa, como é chamado por cientistas políticos ocidentais o sistema do país -ou seja, uma ditadura disfarçada. "Eu vi soldados mutilados em São Petersburgo , implorando por alguns rublos, e isso diz muito. A Rússia é um país em guerra, mas a gente prefere não ver isso. Se existe um legado do trabalho da Anna, esse é importantíssimo", arremata Igort.
quarta-feira, fevereiro 08, 2012
terça-feira, fevereiro 07, 2012
Morre Tàpies
Morre o pintor espanhol Antoni Tàpies, 88
FABIO CYPRIANO
CRÍTICO DA FOLHA
O pintor espanhol Antoni Tàpies morreu ontem, aos 88 anos, em Barcelona, cidade onde nascera no dia 13 de dezembro de 1923. O artista foi um dos nomes representativos da arte abstrata do pós-Guerra. Autodidata, Tàpies, que abandonou o estudo do direito para se dedicar à arte, admitia ter tido grande influência de Joan Miró, Paul Klee e Max Ernst. Sua principal marca, contudo, foi tornar-se um dos expoentes da "pintura matérica", assim chamada por conter densas camadas de tinta. O catalão chegou a ser amigo do poeta e diplomata brasileiro João Cabral de Melo Neto (1920-1999), que serviu em Barcelona e teria lhe presenteado livros marxistas, então proibidos na Espanha. Em 1953, na segunda Bienal de São Paulo, a pintura "Ásia", que hoje pertence ao Museu de Arte Contemporânea da USP, concedeu a Tàpies o prêmio aquisição. O artista criou, em 1984, a Fundação Tàpies, dedicada à promoção e estudo da arte moderna e contemporânea, em Barcelona, que se tornou um dos principais centro de arte da Europa. As mostras que colocaram Lygia Clark e Hélio Oiticica como figuras-chave da arte no século 20, por exemplo, ocorreram lá, respectivamente, em 1997 e em 1992. Não foi divulgada a causa da morte do artista, mas sabe-se se que sua saúde era frágil há muito tempo. Por isso, ele não esteve no Brasil, em 2004, quando foi tema de uma retrospectiva no Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo, com curadoria de Fábio Magalhães e, no ano seguinte, nas filiais do Rio e de Brasília da instituição. Casado com Teresa Barba Fábregas, Tàpies era pai de Antoni, Clara e Miquel.
domingo, fevereiro 05, 2012
Mona Lisa e o caos - Hélio Schwartsman
HÉLIO SCHWARTSMAN
Mona Lisa e o caos
DE SÃO PAULO - Pesquisadores anunciaram que a cópia da Mona Lisa encontrada no Museu do Prado é quase tão autêntica quanto o original. Isso dá o que pensar. O que torna a Gioconda o quadro mais célebre do mundo? E a resposta, que relutamos em aceitar, é: sua celebridade.
Não há dúvida de que Da Vinci era bom e Mona Lisa é uma grande pintura. Mas, tecnicamente, ela está no mesmo nível de outros trabalhos do polímata toscano e de outros grandes mestres. Por que ela, e não La Fornarina , de Rafael, por exemplo, se tornou o ícone da arte pictórica?
A rigor, até meados do século 19, Da Vinci não era páreo para Ticiano, Rafael, e a Mona Lisa era um quadro relativamente obscuro. Sua fortuna começa a mudar depois que foi roubada do Louvre por um italiano em 1911. Acabou sendo devolvida, já como celebridade. Sofreria dois outros "atentados" e se tornaria objeto de paródia de autores pop como Duchamp, Dalí e Warhol. Hoje, o Louvre estima que 80% de seus visitantes vão ao museu primariamente para ver a Gioconda, segurada em US$ 700 milhões.
A tese do físico Duncan Watts é que o sucesso é circular: a fama do quadro advém de sua fama, que foi precipitada por eventos aleatórios.
O interessante é que Watts tem um experimento para corroborar sua teoria. Ele recrutou 14 mil voluntários que deveriam escutar, avaliar e baixar 48 músicas inéditas de bandas desconhecidas. Os recrutas foram divididos em oito "mundos" incomunicáveis, onde podiam conferir a popularidade da canção pelo número de downloads naquele mundo.
Cada mundo evoluiu de modo independente. O que mais pesou foi a fama. A qualidade importou, mas pouco. Músicas muito bem avaliadas nunca foram um desastre, mas, com as canções médias, tudo podia acontecer. Elas podiam estourar ou ser esquecidas. Quem mandava era o caos.
Isso deveria bastar para relativizar as explicações usuais para coisas como sucesso, fracasso e o próprio gênio.
sábado, fevereiro 04, 2012
sexta-feira, fevereiro 03, 2012
A nova Mona Lisa no Museu do Prado
Museu do Prado anuncia descoberta de cópia da "Mona Lisa". (Folha de São Paulo)
O museu espanhol do Prado anunciou nesta quarta (1º) a descoberta de uma cópia da "Mona Lisa", de Leonardo da Vinci, encontrada em seus depósitos. A instituição apresentou à imprensa a pintura, que esteve abandonada por décadas em um sótão, depois de sua restauração. De acordo com um relatório sobre os detalhes descobertos pelos especialistas, publicado na revista britânica "The Art Newspaper", o trabalho é uma cópia da pintura de Da Vinci realizado por algum de seus alunos ao mesmo tempo que o retrato original (1503-1506), no ateliê do artista italiano. Acredita-se, segundo o jornal "El País", que o tal aluno possa ter sido Andrea Salai (que se tornou um dos amantes de Da Vinci) ou Francesco Melzi. A pintura retrata a mesma mulher pintada por Da Vinci, mais jovem e com o rosto mais fresco, mas com a mesma pose e o mesmo sorriso enigmático. O fundo, porém, estava completamente preto, coberto por várias camadas de tinta escura, que foram removidas por especialistas cuidadosamente. A versão restaurada mostra no fundo uma paisagem de colinas e rios que muito se parece com a pintura original, atualmente no Museu do Louvre, em Paris. A publicação acrescentou que a descoberta ajudará a entender como a obra-prima de Leonardo foi pintada. O texto nota, ainda, que o aspecto um pouco mais envelhecido da mulher representada no célebre quadro pode ser resultado da ação do verniz na tela. "Esta descoberta sensacional vai transformar a nossa compreensão da mais famosa pintura do mundo", apontou a publicação. O museu confirmou as informações da imprensa e se comprometeu a oferecer maiores detalhes em breve.
quarta-feira, fevereiro 01, 2012
Assinar:
Postagens (Atom)